Dica Duca – Splice

…sci-fi sui generis

Esse deixou o @espinafrando numa dúvida tremenda: merece um post solo, virando uma Dica Duca, ou entra nas Mudinhas?

Splice é uma ótima ficção científica que se perde quando quer brincar de thriller no finalzinho, embora o epílogo volte a pôr o filme nos eixos. Apesar de um ou outro deslize, é um filme supimpa. Então, ei-lo aqui 😉

Splice

A premissa: casal de cientistas trabalhando para uma mega corporação farmacêutica desenvolve técnica (que eles batizam de splice = emenda) para combinar DNA de várias fontes (animais e vegetais) e criar seres vivos que não existem na natureza, afim de desenvolver proteínas únicas que serão utilizadas na fabricação de remédios para pragas agropecuárias e, quem sabe, até curar o câncer (dedos cruzados!).

Depois da criação de um casal de larvas gigantes cujo DNA lembra uma feijoada (não-light) de tanta mistura, a corporação resolve tesourar o investimento até que os cientistas consigam transformar os não tão simpáticos bichinhos em um produto vendável.

Splice

É aí que nossa adorável geneticista torce o rabo (figurativamente) e decide tentar seu parceiro pop star a dar o próximo passo, emendando DNA humano ao caldo. “Vamos em frente, só pra ver se temos a manha…”

Como é comum acontecer num coito interrompido (de novo, figurativamente), eles acabam sempre pulando a parte do interrompido e, quando se dão conta, viram pais de uma inédita criatura que evolui de forma bastante acelerada até se tornar uma moça careca com ares felinos, pernas de grilo e um rabo –aqui, literalmente– cheia de surpresas escondidas, batizada de Dren (Nerd ao contrário).

Não demora muito e a fileira de dominós começa a cair, peça por peça, até o final trágico esperado.

porque é bom

Splice é cheio de acertos, a começar pelo design de todas as fases das criaturas –sim, temos metamorfoses. A Dren adulta obviamente é o destaque desse samba da genética doida: de longe, parece uma sensual modelo de Fashion Week; de perto, uma aberração animalesca.

Splice

O casal formado por Adrien Brody e Sarah Polley (dos ótimos Go – Vamos Nessa e Madrugada dos Mortos –o mais recente, do Zack Snyder) acrescenta atuações seguras e sutis ao caldo, o que só valoriza as mudanças de papéis dos personagens na trama.

Adicione uma história interessante, que aposta mais na construção das situações do que nas surpresas (ou seja: cheia de clichês do gênero, mas bem trabalhados) et voilà: se não estás diante de uma obra-prima, tens em contrapartida uma ficção científica bastante decente e que te fazes refletir, se deixares a preguiça de lado.

porque é duca

Trocando em miúdos, o filme traz a velha alegoria de brincar de Deus para discutir a ética. Até que ponto se pode ir sem cruzar a linha da moral? Existe uma linha da moral? Um erro justifica ou ameniza o outro? Em terra de cego, quem tem um olho é rei?

Ainda no campo do subtexto, Splice nos brinda com uma metáfora do pecado original de Adão e Eva (na figura dos dois geneticistas) e brinca com os Complexos de Édipo e Elektra. Nada mal para um filminho sci-fi, não?

Por fim, Splice é duca porque renova a tradição d'A Mosca. Só que o nojo não está mais nas transformações físicas. Está nas atitudes demasiado humanas dos personagens.

 

 

2 comentários

  1. Muy bueno! Curti mto esse post.
    Confesso que Splice me animou muito de início, depois começou a me parecer meio forçado. Apesar dos seus avisos que o final não é lá essas coisas, acho que vou conferir. Afinal, a vida é assim, não é mesmo? O final pode até não ser bom, mas o que vale é a jornada. Nas palavras do poeta Steven Tyler: “Life’s a journey, not a destination”. É também ele que disse “Fake it until you make it”. Steven Tyler é um cara complexo. But I digress…
    Splice! Magavilha, vou ver e te falo 😉
    Abrasss

    • Como dizia meu falecido pai: modéstia às favas, acho que foi um dos melhores que escrevi.

      Gracias pela audiência. Ignore o desfecho, o lance é a construção da trama e a reflexão pós-filme.

      E lembre-se: com o espinafrando, é decepção garantida ou sua satisfação de volta!

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