O maior perigo que um prelúdio enfrenta é que você meio que já sabe como vai terminar. Pelo menos, na teoria.
Para ser bem sucedido, o segredo é construir uma história envolvente –aliás, um segredo que não é segredo e deveria ser o objetivo de qualquer filme, livro, série ou HQ, enfim, de qualquer narrativa. É aí que ‘Planeta dos Macacos – A Origem‘ acerta. E acerta com gosto.
Apesar das muitas referências ao ‘Planeta dos Macacos‘ original, ‘A Origem‘ pouco aproveita os conceitos desenvolvidos na série de 5 filmes (6, se contar o remake de Tim Burton), trilhando um caminho próprio.
Esqueça, portanto, as mirabolantes viagens no tempo, enredos circulares e a ameaça atômica. Se é que você lembra disso. Afinal, a série iniciada em 1968 virou algo tão icônico na cultura pop que todos conhecem a premissa, mas acreditamos que poucos das novas gerações tenham de fato assistido aos filmes.
E essa premissa deixa de ser spoiler quando vira paródia dos Simpsons ;-): “astronauta que viaja para o futuro cai em planeta pós-apocalíptico dominado por macacos inteligentes e falantes que tratam humanos como animais. Após peripécias, se depara com as ruínas da Estátua da Liberdade e se dá conta que está na Terra.”
Falando em diretores promissores, o caminho escolhido pelo diretor Rupert Wyatt –que até então só tinha dirigido um curta, um média e um outro longa– é atualizar tudo para conseguir revigorar a franquia. Desde abandonar a maquiagem para construir seus macacos digitalmente, até trazer a ameaça que era uma alegoria num futuro distante para o nosso presente futurístico.

Se antes temíamos a destruição atômica da Guerra Fria e a guerra civil pela igualdade de direitos entre raças, hoje tememos a ciência biológica (com seus transgênicos e superbactérias) e os rumos do capitalismo selvagem (com a ganância acima da ética). E o racismo passou a ser velado (ou não, como tem acontecido na Europa).
É assim que a história começa, mostrando a gênese do Planeta dos Macacos nos bastidores de um laboratório farmacêutico chamado Gen-Sys.
Lá, Will Rodman (James Franco, o personagem mais fraco do filme) busca a cura para o Alzheimer testando vírus modificados em símios cobaias. Sua motivação é ajudar o pai que sofre do Mal, interpretado espetacularmente bem por John Lithgow.

A ideia é que o vírus ataque as células cerebrais afetadas pela doença e as modifique, dizimando a doença. Como efeito colateral, aumenta as capacidades cognitivas dos macacos.
A primeira parte lembra ‘Splice’ (uma das Dicas Ducas menos lidas do espinafrando, e uma das quais mais gostamos de escrever), com a experiência que dá certo, embora aparentemente dê errado. Sem entregar como acontece, digamos que Will acaba pai de um bebê chimpanzé geneticamente modificado e é forçado a continuar o trabalho em casa.

Sem alternativas, o cientista testa a fórmula em seu pai, com resultados ótimos no início. Recuperado e melhorado, Charles Rodman batiza o macaquinho de Cesar.
E a Cesar o que é de Cesar: a partir daqui, o chimpanzé digital superinteligente rouba o filme pra si, numa das atuações mais verdadeiras da história do cinema. É sério: Andy Serkis (o Gollum e também o King Kong) merecia ao menos uma indicação ao Oscar desse ano, quiçá o prêmio máximo da Academia. Tudo isso só com o olhar e expressão corporal.

Mas nem tudo são flores. Um incidente infeliz faz com que Cesar acabe preso num abrigo para animais, dirigido por John Landon —Brian Cox, sutil e o 3º melhor ator do filme– e tocado com requintes de imbecilidade por seu filho Dodge (o Draco Malfoy Tom Felton).

A ficção científica dá lugar ao filme de prisão. E fica um pouco mais brilhante. Decepcionado com a falta de humanidade dos homens e o abandono, Cesar tem que se virar pra sobreviver e começar a esperada revolução.
Revolução que tem mais a ver com fuga para a paz, como um Moisés moderno, do que com conquista. Embora, como toda revolução, seja necessária a luta armada. Com isso, nós cinespectadores ganhamos duas das cenas mais impactantes da película: a chuva de folhas que se vê brevemente no trailer e a batalha na ponte de São Francisco.
O trabalho de Serkis e de toda a trupe que faz a macacada te faz ter identificação imediata com a causa. Você vibra com a queda do abrigo-prisão. Embora te dê um sentimento dúbio durante a batalha da ponte: tudo indica que a vitória (justa) dos símios pode ser a nossa derrocada como espécie.
Mas o grande lance é que não dá pra generalizar. Nem humanos, nem símios são violentos como espécie, o problema são os indivíduos problemáticos e a síndrome de turba. Uma sacada bem Frank Miller/Cavaleiro das Trevas (o gibi revolucionário, não o ótimo filme de Chris Nolan).
O epílogo, apesar de esperado (se você prestou um pouquinho de atenção aos detalhes do enredo) é impactante, evocando a surpresa e inversão de expectativa do original. É engraçado como uma história que aponta o destino do Planeta seja conduzida tanto pelo acaso.
‘Planeta dos Macacos – A Origem‘ é empolgante (olha nossa cara de empolgação: O.O) e traz um frescor que te deixa renovado. Estreia hoje, 26/08. E nossa dica é: ASSISTA!

Primeiramente Parabéns pela resenha, esse é mais um que assistirei, só de assistir o trailer e ler a resenha já da vontade de assistir. kkk