…os Deuses devem estar loucos…
Antes de mais nada, um aviso: Deuses Americanos de Neil Gaiman é um dos livros mais legais que o espinafrando já leu. Se você não quiser NENHUM SPOILER (não vamos contar o final nem nada parecido. É só pra garantir ;-)), leia o nosso nem na metade e depois vá direto à sua livraria preferida pra comprar um exemplar.
Pra quem continua por aqui, que tal saber por que American Gods (que vai virar série da HBO em breve) causa tanto frisson?
O espinafrando não é um especialista em Neil Gaiman (pelo menos, não ainda).
Estranhamente, deixamos de lado essa ponta da santíssima trindade das HQs (composta pelo próprio, Alan Moore e Frank Miller). Talvez tenha sido a escala de Sandman que nos tenha assustado na época.
O fato é que o primeiro contato com o autor foi no seu primeiro trabalho pra Marvel, a minissérie 1602, no recente 2003. Interessante, mas não genial.
O passo seguinte foi anos depois, com Stardust, livro e filme. A história infanto-juvenil de fantasia mostrou um vislumbre do que estava por vir, embora pecasse pelo ritmo.
E aí a Panini lançou a 1ª edição definitiva de Sandman em abril de 2010 e o estrago foi completo. Finalmente, descobrimos algo tão fantástico, algo tão brilhante, que até hoje estamos guardando para a estreia do videocast que motivou a criação desse blog (e que por enquanto só tem as vinhetas).
A partir daí, experimentamos o (ótimo) Lugar Nenhum –em forma de romance e a adaptação em quadrinhos por Mike Carey— e o 2º volume de Sandman, que é ainda melhor que o primeiro –se é que é possível. E então desembocamos em Deuses Americanos.

porque é bom
A frase que abre esse texto, evocando a comédia de 1981, não podia ser mais apropriada.
No filme, vemos um confronto entre a tradição milenar de uma tribo africana e o primeiro contato com a tecnologia, em forma de uma garrafa de Coca Cola.
Mais ou menos a mesma premissa de Deuses Americanos: o que acontece com os velhos Deuses e tradições de toda parte do mundo quando os incontáveis imigrantes vêm parar nos Estados Unidos, essa Babel moderna, onde o American Way of Life se impõe de forma tão irresistível?
O livro responde essa pergunta e muitas outras pelo caminho. E responde de forma magistral.
A narrativa de Gaiman traz o embate entre a cultura da tecnologia, do hoje, do agora e a cultura da superstição, do antigo, do sagrado, numa espécie de realismo fantástico de Gabriel García Márquez com uma pitada lovecraftiana.
Você passa a crer no absurdo porque existe. Ou o absurdo existe porque você crê. De uma forma ou de outra, o embate é tão ideológico quanto físico.
Religiões são, por definição, metáforas, apesar de tudo: Deus é um sonho, uma esperança, uma mulher, um escritor irônico, um pai, uma cidade, uma casa com muitos quartos, um relojoeiro que deixou seu cronômetro premiado no deserto, alguém que ama você — talvez até, contra todas as evidências, um ente celestial cujo único interesse é assegurar-se de que o seu time de futebol, o seu exército, o seu negócio ou o seu casamento floresça, prospere e triunfe sobre qualquer oposição.
Tirando o aspecto filosófico do caminho, ainda sobram uma trama empolgante e recheada de personagens marcantes. Que mistura mistério, aventura de estrada (existe um equivalente para road movie na literatura? Road book, talvez?), ação, sexo, zumbi que não é zumbi –pelo menos no sentido literal da palavra–, traição e mais traição, assassinato, investigação policial e muita mitologia, das mais variadas culturas. E sonhos, como não poderia deixar de faltar.
Essa salada só funciona graças à escrita leve e precisa do autor. O texto flui tão bem que você pode passar horas lendo o calhamacinho de 448 páginas (o termo calhamaço foi redefinido depois de Game of Thrones), sem perceber o tempo passar.
A forma como a história é conduzida, com avanços e retrocessos, permeados por interlúdios históricos, contribui para o sucesso da experiência.
Gaiman te transporta para o olho da tempestade, mas mantém seus pés no chão.

Deuses Americanos quebra barreiras e atravessa as fronteiras entre o mágico e o real, o sagrado e profano, o hoje e ontem. Embarque nessa viagem!
porque é duca
Essa pergunta é simples de responder: Deuses Americanos é duca porque é tão genial quanto Sandman, ué.
Ou vai dizer que nunca leu essa HQ que derrete cérebros desde 1989? Hein?!?
Ainda nao terminei este…
E o que está esperando? Manda bala!
To lendo, soh que tah lento…
Foda