O Mudinhas de Espinafre trata de assuntos pop (quem diria?) que marcaram o dia-a-dia do espinafrando no formato de pílulas. Ou seja, textos curtos e sem profundidade. Vamos a elas!
Música
Quadrophenia – The Who
Esta maravilha dupla foi relançada remasterizada e cheia de extras (versões demo), numa edição caprichada com dois livretinhos lotados de fotos. Pra quem não conhece, trata-se da segunda ópera-rock do Who, depois do sucesso de Tommy. E aqui cabe uma desmistificação que pode ser útil pra quem não conhece ópera-rock e/ou nunca ouviu The Who e tem preconceito com o termo: a primeira vista, pode parecer algo completamente pretensioso e que remete aos musicais da Broadway — ARGH!!— (pelo menos, essa era a impressão que o espinafrando tinha antes de ouvir com os próprios ouvidos a obra de Pete Townshend, Roger Daltrey, Keith Moon e John Entwistle). Mas não. É apenas rock clássico e bom, que inclusive funciona muito bem mesmo se você escutar as faixas isoladamente. O lance da ópera aparece em 3 características:
- As letras das músicas desenvolvem um mesmo tema ou história (aqui, as brigas de gangue na Inglaterra e as frustrações e inseguranças do protagonista com múltipla personalidade).
- A repetição de frases musicais dos temas, que invadem as canções e dão o senso de conjunto.
- O uso de vinhetas ligando uma canção à outra. Este último recurso foi mais utilizado em Tommy e não aparece tão claramente em Quadrophenia.
O álbum? É uma porrada atrás da outra, com alguns momentos sublimes no meio. E tem Love Reign O’er Me, uma das melhores músicas do Who (que fica melhor ainda na versão do Pearl Jam para o filme de mesmo nome, mas isso não vem ao caso). Vale cada centavo. E dá pra ouvir o melhor baterista do rock na sua melhor forma.
The SMiLE Sessions – The Beach Boys
Enfim, o disco não-lançado mais famoso da história do rock chega as prateleiras das lojas que ainda vendem discos. O álbum que deveria superar Pet Sounds e bater nos Beatles e seu Sargento Pimenta. Se aí em cima temos um exemplar de ópera-rock, mais rock do que ópera, The SMiLE Sessions se assemelha mais a uma sinfonia-rock-psicodélica. E… foi ao mesmo tempo uma tremenda decepção e um deleite para esse fã da trupe de Brian Wilson e Mike Love. É ruim? Longe disso: você tem o melhor dos Beach Boys, harmonias e melodias lindas, inventividade a dar com o pau. Mas grande parte das canções já haviam sido ou lançadas ou rearranjadas no Smiley Smile, o álbum substituto de última hora depois do colapso na gravação do SMiLE. Pra quem curte o Smiley Smile não é essencial, embora traga algumas surpresas: um arranjo diferente aqui, um vocal novo acolá, muita música nova. Pra quem não tem nenhum dos dois, bem, qual é o SEU PROBLEMA? E pra quem curte música como músico, a tonelada de extras é muito bem-vinda! Principalmente os trechos inacabados que permitem vislumbrar o processo criativo de um gênio na composição e produção, o Sr. Wilson.
A Hard Night’s Day – New York Dolls
Depois de todo virtuosismo dos dois álbuns aí de cima, é hora de desopilar o fígado com a crueza dos New York Dolls. Dia desses, estava passando um documentário muito bacana na HBO sobre Bob Gruen, um dos grandes fotógrafos do rock’n’roll.
(leia mais sobre isso no blog do André Barcinski)
E foi ali que finalmente o espinafrando escutou New York Dolls pela primeira vez, um pecado que foi prontamente corrigido no dia seguinte, com a estreia da iTunes Store no Brasil. O primeiro álbum comprado foi esse A Hard Night’s Day, que aparentemente é a primeira gravação dos Dolls em estúdio (mas não o primeiro álbum oficial: os produtores pediram à banda novata para tocar todo seu repertório, afim de escolher o que entraria no primeiro disco). 21 músicas, gravadas ao vivo, em um take, por US$9,99. E foi paixão à primeira vista. Parece um encontro raivoso entre os Rolling Stones e o Buzzcocks da fase Howard Devoto. E isso 3 anos antes dos Ramones e 6 antes do punk inglês. É a típica banda que toca mal, com um vocalista terrível, mas que faz isso com tanta energia que acaba soando espetacular. Admitimos a ignorância e pode ser que os outros álbuns de Johnny Thunders e cia. sejam uma fria, mas definitivamente vamos querer descobrir mais sobre a banda.
hq digital
The Goon
Taí uma hq estrambótica que infelizmente não é publicada no Brasil. Quer dizer, saiu um volume por aqui reunindo as 7 primeiras edições há bastante tempo, e nada mais. Semana passada, a Dark Horse fez uma promoção em seu site/app com várias edições de The Goon por US$0,99, e o espinafrando aproveitou pra comprar os números 8 e 9. Foi fácil esquecer depois de tanto tempo o quanto Goon é ótimo: uma mistura única de humor negro e ação vintage, sobre um valentão barra-pesada que enfrenta vampiros, zumbis e outras esquisitices, inclusive se encontrando com o detetive do sobrenatural, o Hellboy. Mas foi só ler a oitava edição pra lembrar de tudo isso rapidinho. Eric Powell, que escreve e desenha, tem a manha.
Sobre quadrinhos (e livros) digitais: ler e ter em papel é infinitamente melhor. Ponto. Mas se você não tem a opção (como é o caso do Goon) e tiver um tablet, dá pra aproveitar a experiência tão bem quanto. Fora a praticidade, que também é um perigo pro bolso: em questão de minutos e com 2 ou 3 cliques, você já pode começar a ler. Agora, uma coisa que o espinafrando defende é: se você gosta da obra, não pirateie! Baixar grátis é a forma mais rápida de não ter mais quadrinhos novos do seu autor favorito. Com um mercado em crise, editoras e autores estão rebolando pra se manter na ativa. Se uma série não vende (mesmo que popular), é cancelada. E coisas como Goon, que ainda por cima é quadrinho autoral, não merecem esse destino.
Bone
Esse aqui é outro que não tem sorte nas terras tropicais. Enquanto lá fora a série já acabou e já está na 2ª republicação de luxo, por aqui está estacionada há séculos, sem fim. Sempre ouvimos falar muito bem de Bone, e aproveitamos que o Comixology tem a primeira edição gratuita pra descobrir se vale à pena o investimento. A resposta: tudo indica que sim. Quando viramos a última página virtual, bateu um impulso gigantesco de comprar o 1º volume. Bone é bem diferente de tudo que tem no mercado, a começar pelo apelo diversão pra toda família. É como se fosse um filme da Pixar: fofinho, engraçado, sensível, aventureiro e inteligente sem ser piegas. Parece ser um Senhor dos Anéis mais mágico, protagonizado por criaturinhas que lembram o Shmoo. E muito bem escrito e desenhado por Jeff Smith. Aprovado, por enquanto.