O homem-leigo está de volta: @brunofj, nosso enviado especial, foi conferir antes de quase todo mundo o que As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne tem a oferecer. O filme estreia nos cinemas nessa sexta-feira, 20/02. Sem mais delongas, vamos ver o que @brunofj achou dessa parada!
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Dessa vez a missão especial para o espinafrando prometia: ver um filme em 3D, no melhor cinema do gênero no Brasil (IMAX), com direção do mago Steven Spielberg e produção de Peter Jackson, o cara que foi um dos pioneiros no uso da técnica de captura de movimentos, criando uma empresa de efeitos especiais exatamente para dar vida ao Gollum de O Senhor dos Anéis e ao King Kong. Foi por essa experiência que James Cameron contratou a Weta Digital para fazer parte dos efeitos de Avatar e que levou Spielberg a chamá-lo pro projeto do Tintim. E além dessa dupla dinâmica, o roteiro tem os dedos de Edgar Wright e Steven Moffat (responsável pelas séries britânicas Dr. Who, Coupling e a nova coqueluche Sherlock).
Falando de cinema, é difícil reunir um timaço mais promissor do que esse. Ainda mais para dar vida a uma das HQs mais cultuadas do mundo e que eu nunca li. Ou seja, a expectativa estava lá no alto! O problema é que nem sempre o time dos sonhos funciona fora do papel, vide o saudoso pior ataque do mundo (Sávio, Romário e Edmundo).
E esse foi o caso n’As Aventuras de Tintim. Faltou alguma coisa pra encaixar o meio de campo. Não há o que comentar do capricho da produção: tudo muito bem filmado com atores e depois renderizado em computadores de ultimíssima geração. Mesmo assim, não há aquele impacto “uau” de Avatar (se você assistiu em IMAX, sabe o que quero dizer). É um filme 3D mais para a linha de Toy Story: fica legal, mas nada revolucionário.
Não sei dizer se a história e o filme devem agradar aos fãs dos álbuns de Tintim, já que esse não é o meu caso. Mas entendo que a grandeza de uma produção que queira fisgar todos os públicos, leitores ou não do personagem, é a de conquistar os leigos. E essa não me conquistou.
A começar pelos personagens: Tintim (Jamie Bell, o ex-garoto dançarino de Billy Eliot) é muito pretensioso; o Capitão Haddock (Andy Serkis, também conhecido como o homem por trás de Gollum, King Kong e Cesar do último Planeta dos Macacos) não tem carisma; a dupla Dupond e Dupont (Simon Pegg e Nicky Frost, a dupla de Shawn of the Dead e Hot Fuzz) tem um humor muito infantilizado, mais pra Garfield que pra Shreck. E o vilão Ivan Ivanovitch Sakharin (o 007 Daniel Craig) parece meio perdido, sem saber direito o que quer, sem foco. Falta identificação com os personagens, falta aquele que você quer ser nas brincadeiras quando é criança. Definitivamente, um grupo que não empolga. Talvez por todos serem muito unidimensionais, maniqueístas.
E aí ainda tem a história e a narrativa, com outros dois pecados pra somar à coleção. O roteiro é bastante linear, mas isso não é necessariamente um defeito (particularmente, gosto de roteiros do tipo quebra-cabeças, pra ir montando o enredo enquanto assisto). A questão é que a narrativa é muito simplista, sem ganchos durante o desenrolar da história para criar suspense e aguçar a curiosidade. A impressão que fica é que é apenas uma sucessão de fatos, mais pra um passeio na Montanha Encantada do que pra uma volta na Montanha Russa. E a história podia fazer um regime e perder uns quilinhos, que não fariam falta nenhuma. Esse talvez seja o defeito imperdoável: o filme é cansativo. E quando você para pra pensar no meio do filme que ele está longo, além de ser um sinal de que a experiência está desagradável, ainda quebra a ilusão e o seu envolvimento, encobrindo todo o esmero da produção.
Não que o filme seja uma bomba, nem uma pasmaceira só: as poucas sequências de ação têm um ritmo frenético e fazem bom uso do 3D, sem te deixar perdido como num filme do Michael Bay. O visual é agradável, colorido em tons fortes e bonito o suficiente para virar (se é que já não virou) um bom game.
Essa semana, As Aventuras de Tintim faturou o Globo de Ouro de melhor animação, desbancando a continuação de Carros (mas até aí, dizem que esse é o filme mais fraco da Pixar).O filme deve render uma boa bilheteria, pelos elementos que criam a grande expectativa que falei nos primeiros parágrafos, mas, sinceramente, não acredito que Tintim entrará pra lista das melhores coisas que você já viu no cinema. De toda forma, vale o ingresso pro cinema (especialmente se você for fã do personagem), nem que seja pra formar sua própria opinião. O debate está aberto.