Quando descobri que Jonah Hill e Channing Tatum estavam envolvidos num remake de 21 Jump Street, o bom e velho Anjos da Lei, estava ao lado do meu cunhado, apenas 4 anos mais novo do que eu. Quando a série estreou na Rede Globo, no final de 1988, eu tinha de 11 pra 12 anos, ele tinha 7. O que talvez explique o fato dele não fazer ideia do porquê de eu estar empolgado.
Não adianta tapar o sol com a peneira. Faz mais de 20 anos que o seriado que transformou Johnny Depp em sonho de consumo para as adolescentes foi ao ar. São duas gerações, a Y e a Z, que nunca ouviram falar dos oficiais Tom Hanson (Depp) e Doug Penhall (Peter DeLuise) ou do programa da polícia em que jovens policiais à paisana se infiltravam em escolas para prender criminosos ainda em tenra idade, antes que crescessem e ficassem mais perigosos.
Até minha memória anda meio esburacada: lembro apenas que era uma série policial séria, que Penhall era um cara bacana, que Hanson era revoltadinho (será?), que eu preferia mais o louco capitão Richard Jenko (morto no quinto episódio) do que o durão capitão Adam Fuller, e que eu adorava ouvir a introdução de ‘Always On My Mind‘ dos Pet Shop Boys. Lembro especialmente de cenas de um episódio em que Hanson e Penhall estavam envolvidos numa investigação sobre tráfico, em que eram obrigados a tomar as drogas frente aos traficantes para não destruir o disfarce, e um deles acabava meio que se viciando. Ou tudo pode ser fruto da minha imaginação.
(anos mais tarde, quando trombei com uma reprise sem cortes e com o som original na TV a cabo, lembro da decepção que foi descobrir que os Pet Shop Boys na abertura era invenção da Globo, assim como ‘Tom Sawyer‘ do Rush havia sido tema de Profissão: Perigo, ou simplesmente McGyver)
Mais do que empolgado, na verdade eu estava curioso sobre que rumo o filme tomaria. Por que fazer um remake dessa série em específico? 21 Jump Street é daqueles “clássicos” meio capengas, nem cult, nem mainstream o suficiente. Nem revelar Depp como protagonista revelou (esse papel coube ao mítico A Hora do Pesadelo, em 1984).
E como seria o envolvimento de Jonah Hill, ator, produtor e roteirista famoso pelas comédias? Seria uma mudança de rumo repentina, uma tentativa de algo mais sério, mais dramático? Talvez. Pelas fotos ele estava MUITO mais magro do que de costume, o visual podia indicar uma mudança radical na carreira e no estilo de vida.
O lançamento do trailer definitivamente jogou essa teoria pelo ralo. Anjos da Lei seria uma comédia deslavada. E isso acabou me deixando mais curioso, de forma mórbida. Por que Hollywood inventa dessas? Por que não criar uma paródia original? Starsky & Hutch, A Feiticeira e The Dukes of Hazzard já não foram ruins o suficiente? É sério que vão americanpienizar um seriado policial que era cheio de personagens e situações problema, drama, crime e investigação?
Os comentários no Twitter dos gringos que assistiram sessões-teste, e depois dos que viram o filme na estreia (lá fora, saiu em 16 de março), deram uma aliviada na situação. 21 Jump Street parecia ser uma comédia bem engraçada, que só aproveitava o nome e o conceito policial-jovem-infiltrado-na-escola do material original. Bem, ninguém mais lembrava de Anjos da Lei, mesmo.
E foi assim que entrei na sala de cinema, para assistir à nova produção de Jonah Hill que estreia nesta sexta, 04/05, antes de (quase) todo mundo.
😀
E foi assim que saí da sala de cinema. Acontece que Anjos da Lei é o que há de mais próximo do que seria uma versão americana de Hot Fuzz, do britânico Edgar Wright. É um mash up de comédia com filme policial. Gera gargalhadas expontâneas. E, acredite, mais do que um remake, é uma verdadeira continuação do seriado original, 25 anos depois (não, não errei nas contas. 21 Jump Street estreou na Fox americana em 1987).
Jonah Hill é Schmidt, o nerd inteligente. Channing Tatum é Jenko (óbvia homenagem ao capitão original), o atleta popular. Isso, na época da escola. Ambos eram inimigos no colegial. Ambos saem sem participar do baile de formatura, por motivos diversos. Ambos decidem tentar a sorte na academia de polícia, e percebem que precisam unir forças para se formarem. Nasce a amizade. Viram policiais que patrulham o parque. Tentam a primeira prisão, se dão mal e são transferidos para a unidade Anjos da Lei. Passam a investigar o tráfico de drogas na escola e por aí vai.
O grande trunfo da história de Michael Baccal (roteirista de Scott Pilgrim, daí a ligação com Edgar Wright) e Jonah Hill, com roteiro do primeiro, é a despretensão. O filme é recheado de piadas de autorreferência e deboche dos clichês do gênero e da indústria de Hollywood. A começar pelo discurso de transferência dos dois feito pelo delegado, algo como: “nos anos 80, a polícia tinha uma unidade especial, que infiltrava jovens policiais nas escolas para diminuir a criminalidade. Como não temos imaginação e estamos sem novas ideias, resolvemos refazer os Anjos da Lei.”
Após esse 1º ato de introdução, e com o desenrolar da 1ª missão da dupla disfarçada, o remake e a própria opção pela comédia começa a se justificar e fazer sentido. Afinal, muita coisa mudou na sociedade em 25 anos. Muita coisa mudou até nos últimos 10 anos! Estamos numa era em que nerds e pessoas sensíveis são populares e fazem sucesso, em que se fala em sustentabilidade, com smartphones e internet que transformaram a comunicação pessoal, onde se recrimina a discriminação. Ser engraçado é in. Ser brucutu é out. E logo que a dupla Schmidt e Jenko se dá conta disso no primeiro dia de escola, precisam tentar se adaptar para chegar a algum lugar.
Se as regras da sociedade mudaram, faz sentido também mudar e subverter todas as regras do genêro no cinema (incluindo o papel das perseguições em alta velocidade e das explosões). E com isso, mais do que uma simples reciclagem de um programa de tv, Anjos da Lei se transforma numa continuação direta do original, totalmente adaptada aos novos tempos. Há até a atualização (caso eu não a tenha imaginado) daquela cena em que a dupla infiltrada precisava tomar drogas para não destruir os disfarces. E se nos anos 80 eu fiquei impressionado com o resultado, nos anos 10 eu perdi o fôlego de tanto rir.
Vamos falar dos astros: Jonah Hill está ótimo como sempre (se você gosta de Jonah Hill, claro). Channing Tatum é engraçado pacas (uma surpresa!). A gatinha Brie Larson (que também esteve em Scott Pilgrim, no papel de Envy Adams, mas que passou despercebida) é uma surpresa adorável, uma espécie de Emma Stone menos caricata. Dave Franco (irmão do James) surpreende como antagonista. E o restante do elenco de apoio manda bem. O único que destoou foi Ice Cube, que apesar de engraçado ao brincar com seu estereótipo, acaba pesando a mão aqui e ali. E tem participações especialíssimas de deixar o queixo caído, mas isso você vai ter que descobrir assistindo ao filme.
É sério. Anjos da Lei superou muito as expectativas. Pra ficar perfeito, só faltou o ♪TAN-tantantantan-Tantan♫ dos Pet Shop Boys 😉
Ah, e a piada com o Robert Downey Jr. é uma das melhores dos últimos tempos!
Engraçado. Apesar de não saber muito de 21 Jump Street (afinal de contas sou de 1995 hahaha) eu havia ficado bastante interessada porque gosto de filmes de ação. Porém, devido a algum trauma dessas comédias horrorosas que andaram surgindo, perdi um pouco da vontade quando o gênero foi anunciado/definido.
Bom saber que vale a pena, já estava acreditando que seria mais um daqueles filmes que nos fazem questionar a divisão do dinheiro no mundo E sua utilização por aqueles que o monopolizam hahaha
(E quero ver a piada com o Robert Downey Jr. E o Dave Franco.)
Vai que vale a pena! E, como você é novinha, dá uma olhada na Wikipédia do Robert Downey Jr., só pra garantir 😛
Cara. Eu assistia todos os episódios. Alias diga-se de passagem a decada de 80 só tinha ótimos seriados. Esquadrão Classe A, Retrato Falado, Agua de Fogo, Magnum, Miame Vice e varios outros.
Saudade de um tempo que não volta mais. Nem nos Seriados nem nas musicas.
Não lembro dessa Retrato Falado. Sobre o que era?
Cara. Retrato falado era um Seriado que tinha uma fotógrafa. Tem 2 links abaixo que falam sobre ele. O cara que fazia o seriado com ela morreu brincando de roleta russa com um revolver com bala de festin, aí foi substituido por um outro cara muito bom que tambem ja faleceu. Essa Atriz é brasileira. Linda por sinal.
http://www.redemanchete.net/videos/video.asp?aid=21&id=261&t=SESSOES-DE-FILMES–1%AA-abertura-do-seriado-'Retrato-Falado'-exibido-na-decada-de-80-na-Rede-Manchete.-Ainda-com-o-ator-JonErik-Hexum-que-morreu-durante-as-gravacoes-vitima-de-um-disparo-acidental-e-com-a-atriz-brasileira-Jennifer-O'Neill.
http://revistatvseries.blogspot.com.br/2010/01/retrato-falado.html
Havia uma sequencia de filmes na decada de 80 que eu pelo menos gostava muito (Scanners – Sua mente pode destruir). No youtube tem alguns episodios completos dublados.