Mudinhas de Espinafre são pílulas pop, comentários (nem sempre) curtos e sem profundidade sobre coisas bacanas que você deveria ver, ouvir, ler. Ou não.
Esta edição é monotemática: seriados da HBO, com 1 despedida e 3 novidades.
Vamos a elas!
Séries da HBO
Preamar
O season finale chegou e passou. Hora de um balanço geral.
- Pontos negativos: só teve um, de fato. Faltou coragem aos roteiristas para terminar a 1ª temporada de forma bombástica. O cenário estava todo armado para uma vitória amarga e um final em suspenso, mas a montanha de boa vontade acabou trazendo (re)soluções apaziguadoras que desembocaram num final feliz um tanto quanto broxante. Ficou apenas uma ponta solta, que tem efeito mais de pulga atrás da orelha do que de elefante branco na sala de estar. A crítica tem intenção de ser construtiva, dado o potencial. Talvez seja um mal da cultura brasileira, que ainda engatinha na produção de seriados. Um final destruidor à la Breaking Bad é pedir demais? Definitivamente, não.
- Pontos positivos: foram muitos. O esmero da produção, a escalação de elenco, as boas tramas, a trilha sonora decente, as belas imagens do Rio, a abordagem realista… O ponto alto, sem dúvida, foi o mix de elenco X personagens. Até as atuações mais caricatas, como as de Roberto Bonfim (Xerife) e Oswaldo Mil (Diretoria), que causaram estranhamento no início, acabam compondo um quadro bastante verossímil no todo. O núcleo da família Velasco, formado pelo casal João Ricardo (Leonardo Franco) e Maria Isabel (Paloma Riani) + os filhos Fred (Hugo Bonemer) e Manu (Jéssika Alves), deu show. Você percebe que uma obra de ficção é boa quando fica com saudades dos personagens. Foi esse o caso, e acho que não pode haver elogio maior.

Girls
Estreou na segunda retrasada a nova série-sensação do mundinho indie/hipster, também conhecida como a Sex and the City das meninas da classe média. Girls tem o selo Judd Apatow na produção, que vem se especializando em comédias de desajustados com pitadas de drama. Mas o DNA é todo Lena Dunham, a garota-prodígio que escreve, dirige e atua em sua criação.
Lena tem uma mente esperta e ágil. Foi sensação no festival SxSW de 2010 com seu primeiro longa, Tiny Furniture (disponível no Netflix, estou assistindo, crítica em breve), também produzido, escrito, dirigido e estrelado por ela. O filme rendeu o convite da HBO, e aqui estamos, já no terceiro episódio.

Girls é sobre 4 meninas na casa dos 20 anos, tateando a vida recém-saída da escola/faculdade, num país em recessão econômica (dinheiro dos pais e empregos rareiam). E dá pra entender rapidinho o motivo do hype: as minas e os manos tem gostinho de carne e osso, pontuados por ótimos diálogos como esse aqui:
Shoshanna: Estou dizendo que tenho quase 22 anos e ainda sou virgem.
Marnie: Calma, sexo é superestimado.
Shoshanna: Agora você me acha uma perdedora.
Marnie: Não… Nem sei o que dizer… Eu atropelei um cachorro e ainda tinha carta de motorista provisória.
Vale mencionar que as personagens tem aliterações nos nomes, ao melhor estilo Stan Lee: Hannah Horvath (Lena Dunham), Marnie Michaels (Allison Williams), Jessa Johansson (Jemina Kirke) e Shoshanna Shapiro (Zosia Manet).
Como são apenas Mudinhas, digo que vale a pena acompanhar. Se quiser uma análise mais profunda sobre um tema caro à série (isso é um trocadalho, clique no link a seguir pra entender), recomendo essa aqui do Pedro Burgos.
Quem é vivo sempre aparece: no 3º episódio, quem dá as caras é James LeGros, que fez um dos bandidos da Gangue dos Presidentes em Caçadores de Emoção (Point Break).
Veep
Outra estreia, passa na sequência de Girls. É o retorno de Julia Louis-Dreyfus à TV, depois da sem graça The New Adventures of the Old Christine.
Veep trata das desventuras de uma congressista que viu seu sonho de se tornar a primeira presidenta norte-americana ruir durante a campanha das prévias, mas que conseguiu chegar à Casa Branca como vice-presidente.
Tinha tudo pra dar certo: a eterna Elaine Benes de Seinfeld protagonizando uma série da HBO.
Depois de 2,5 episódios (dormi no meio do terceiro), ainda não engrenou. Veep lembra uma cópia mal acabada de Parks and Recreation. A estrutura é quase a mesma: seguimos os passos patetas da vice e equipe no capitólio (que tenta a todo custo sair da sombra do presidente e deixar um legado em seu nome para tentar uma “promoção” nas próximas eleições), embora não tenha o ar de falso documentário, nem os personagens sejam conscientes das câmeras.
As piadas são choxas. Aumentaram a escala no funcionalismo público e diminuíram a graça.
Quem é vivo sempre aparece: a principal assessora da vice-presidente é ninguém menos que Anna Chlumsky, a adorável garotinha que fazia par com Macaulay Culkin em Meu Primeiro Amor. Como se suspeitava, virou uma gata.
The Newsroom
A última estreia é a cereja do Sunday (porque aos domingos).
Bastou o episódio piloto terminar para eu declarar a nova empreitada do roteirista Aaron Sorkin (West Wing, A Rede Social) como a minha nova série favorita. E justificar minha permanência como cliente de operadora de TV à cabo.
The Newsroom trata da redação* de um telejornal fictício, espécie de Jornal do SBT: passa numa rede que está longe dos líderes, tem um âncora tradicional como Carlos Nascimento —mas que dá um boi pra evitar um posicionamento e uma boiada pra fugir da polêmica, tem certa audiência, mas é insípido, inodoro e incolor. Lógico que tudo isso muda. Ou o seriado seria mais chato que 2 Broke Girls.
O ponto de virada é uma mesa redonda numa universidade, com uma jornalista liberal, um conservador e a figura neutra de Will McAvoy (o tal âncora, chamado de “o Jay Leno do jornalismo” porque não desagrada a ninguém). Depois de muitas sabonetadas nas respostas, o mediador se cansa e exige uma posição de Will sobre a pergunta de uma estudante —”por que os EUA são o melhor país do mundo?”. Aturdido pela insistência do mediador e por uma visão quase Jedi na plateia, McAvoy desce do muro e regurgita um discurso histórico, não só para a lógica interna do seriado, mas também para a TV americana. Diacho, é um discurso tão bom que é relevante para toda a população ocidental do planeta, pelo menos.
A partir daí, é tensão, suspense, inteligência, idealismo, escrotidão, romance, comédia, traição, lealdade, muito realismo e um tiquinho de surrealismo. Tudo embalado na direção segura —e surpreendente— de Greg Mottola e em ótimos diálogos que até poderiam ser classificados como duelos verbais. E com atuações totalmente fora da curva! O protagonista Jeff Daniels, inspiradíssimo, lava a alma de todas as bombas que já fez no cinema para pagar as contas (estou falando com você, Débi & Lóide!).
De novo, vou me valer da desculpa “Mudinhas” para parar por aqui, sem detalhar o enredo. Se tiver curiosidade, recomendo esse ótimo artigo do Álvaro Pereira Jr. sobre a série e sua inspiração.
Quem é vivo sempre aparece: esses nem estão sumidos, valem mais como curiosidade —Dev Patel, de Quem Quer Ser um Milionário, é um dos coadjuvantes, ao lado de Alison Pill, a Kim Pine de Scott Pilgrim Contra o Mundo.
*agradecimentos especiais à Vera Magalhães e Marcelo Soares.