…o estranho caso da moléstia pop…
Escritor inglês, de prosa fácil, sensível, adora uma referência pop… Não, não é o Nick Hornby. Estou falando de Mark Haddon.
Meu primeiro contato com Haddon foi em 2004, quando li o muito excelente O Estranho Caso do Cachorro Morto. Um livro porreta, cheio de ternura, que me encantou com as aventuras de uma criança autista, escritas sob o ponto de vista do próprio garoto.
Nem sei dizer porque nunca fui atrás de outros livros do Haddon até esse ano, mas o fato é que não fui. Então, hora de corrigir o erro com Uma Coisa de Nada. E de recomendar que você não seja tão relapso quanto eu fui, porque esse chapa britânico escreve bem pacas!
porque é bom
Em Uma Coisa de Nada, acompanhamos algumas semanas na vida da família Hall. George e Jean são gente tradicional de um subúrbio tradicional de Londres. O que significa que ele é um inglês fechado, recém aposentado após trabalhar uma vida no mesmo local e que acredita que “o segredo da satisfação consiste em ignorar várias coisas”. Ela é professora, temente a Deus, excessivamente preocupada com as boas maneiras e com o que a sociedade pensa, e que vive em função do marido e da família há mais tempo do que o recomendável.
O casal tem dois filhos já adultos. Katie é a primogênita, de gênio difícil, questionadora e mãe solteira —foi abandonada pelo pai da criança, daqueles caras fodões, até o momento em que se precisa deles. Mas está namorando Ray, que é o perfeito oposto do ex: provedor, que cuida da criança, um tanto sem graça e, pecado dos pecados, vem da classe trabalhadora e não parece intelectualmente interessante. A família o desaprova em peso.
Já Jamie, o caçula, é corretor de imóveis, descolado e gay, o que por si só já é uma questão delicada para os tradicionalistas Hall. E enfrenta um dilema: vai ou não convidar o peguete pro casamento da irmã com o insosso namorado? O que isso pode significar pro relacionamento? Pois é, o clichê “homens têm medo de compromisso”, mas apresentado de maneira um tanto diferente.
Em meio a esse fuzuê, o patriarca George se descobre com um possível câncer, síndrome do pânico e algo que pode ser demência ou Alzheimer, enquanto sua esposa inicia um caso extra-conjugal na terceira idade com um ex-colega de trabalho do marido.
porque é duca
Por mais que a sinopse pareça com um novelão à moda antiga, Uma Coisa de Nada se diferencia na construção da história. Trata de assuntos sérios sem seriedade excessiva, com bom humor (mas sem exageros), muita auto-ironia e sem um pingo de demagogia.
Mesmo nas partes mais pesadas —leia-se as partes que tratam da degeneração das faculdades mentais de George— o texto é leve e cheio de vida.
Outro ponto a se destacar (isto é, caso ainda não tenha ficado claro) é a habilidade com que Haddon retrata tamanha diversidade de personagens, sem recorrer a situações manjadas ou afundar o pé em estereótipos. Acima de tudo, os personagens de Mark Haddon são demasiadamente humanos. Respiram e têm pulsação própria. A identificação com o leitor é fácil e quase instantânea.
Haddon consegue manter o interesse em alta a cada capítulo, mudando constantemente o foco da ação para os problemas individuais de cada membro da família Hall. É claro que todas as linhas paralelas acabam convergindo uma hora ou outra. E quando isso acontece, é como a força da água que arrebenta a represa.
Uma Coisa de Nada é daqueles livros empolgantes, impossíveis de largar até chegar à última página. Li em 3 dias, e tenho certeza de que quem curte literatura pop tipo Nick Hornby também vai adorar!
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Excelente dica! Mais uma vez parabens ao pessoal do Espinafrando. O blog eh muito legal.
Sds
R
Thanks, dude!