Há algo mais chato e assustador do que o fim da vida?
É essa a questão que Amor, de Michael Haneke, parece propor.
O filme mostra os últimos dias (semanas? meses?) de um casal de idosos, Georges (Jean-Louis Trintignan) e Anne (Emmanuelle Riva), ambos professores de piano aposentados. Tudo começa com um “SPOILER“: a polícia a encontra morta no apartamento fechado, envolta por flores, como num velório. E, então, retrocede no tempo para entregar como o fato aconteceu.
Durante um café da manhã corriqueiro, Anne sofre um derrame. Uma pane momentânea em que não responde a estímulos externos. Que passa em alguns minutos e que assusta mais Georges do que ela.
Após uma relutante consulta médica, o casal descobre que ela precisa de uma cirurgia. A operação traz complicações: Anne cai nos 5% de risco e fica com um lado do corpo paralisado. Nada disso é mostrado, vemos apenas as consequências.
A doença degenerativa vai piorando com o passar do tempo e resta a Georges cuidar de sua esposa até o fim inexorável. Que chega de forma chocante.
Amor é um filme feito para incomodar. O próprio título esconde algo de subversivo e cinismo. Até agora, ainda não sei se gostei ou não.
As atuações de Jean-Louis Trintignan e Emmanuelle Riva são marcantes (e mais um exemplo de esnobada do Oscar). Particularmente o trabalho de Riva, com pouquíssimo texto e muito esforço. É tocante e excessivamente real.
O ritmo é arrastado, e apesar de compreender que pode fazer parte da proposta de Haneke, sinto que traz consigo um problema inerente de montagem. Há um abuso de cenas contemplativas. É possível que uma tesoura mais faminta na sala de edição tornasse o filme mais fácil de digerir. Apesar disso, as cenas isoladas são poderosas e trazem angústia.
O roteiro escancara todo o sentimento de impotência, mesquinhez, egoísmo, indiferença, comiseração e solidariedade que uma situação dessas pode despertar.
É quase como passar por um acidente de carro: a vontade é virar o rosto pro outro lado, mas há um magnetismo na desgraça que puxa seu olhar de volta.
Amor é um filme difícil de assistir, mas fácil de compreender. Tem a ver com sua capacidade de causar empatia. Afinal, ninguém gosta de encarar o inevitável fim da vida.