espinafrando a estreia 2: O Homem de Aço

Pois bem… o Sr. @espinafrando ficou um tanto descontente com a nova encarnação do Superman nos cinemas. Eu o acompanhei na mesma sessão… e as impressões são um tanto parecidas. Desta vez, Hollywood errou o alvo na remodelagem de um personagem tão clássico e icônico.

O trailer de O Homem de Aço mostrava imagens belíssimas e poéticas da infância de Clark Kent, e as primeiras percepções do protagonista como alguém que tem um grande destino a cumprir em sua jornada pela Terra. Um épico ambicioso, com cenas espetaculares de ação. E ok, todas essa imagens estão no filme… mas a liga entre elas (e não falo da Liga da Justiça aqui, senhoras e senhores) simplesmente não cola.

Tudo começa em Krypton, que já apresenta ares de Avatarwannabe, com seu universo “inédito” e criaturas idem. Num longo e cansativo prólogo, explica-se o colapso da civilização alienígena junto com todo o plano de Jor-El (Russell Crowe, com bastante credibilidade na função) de despachar seu rebento Kal-El para outro canto do universo, onde ele possa sobreviver ao cataclisma kryptoniano e levar a herança de sua origem adiante. Sem falar no General Zod (o sempre insano e sempre bom Michael Shannon), que acredita na sobrevivência de seu povo acima de tudo, pois ele foi programado desde o nascimento para seguir esse papel em sociedade. Ao mesmo tempo, ele é aliado de Jor-El, mas ambos entram em conflito sobre como lidar com o destino do planeta. Daí temos o antagonismo e a definição do vilão da vez (que coisa, desta vez não tem Lex Luthor!).

Daí, saltamos para o cotidiano de um Clark Kent já adulto, buscando seu lugar no mundo. Aliás, uma das grandes sacadas desta versão é colocar Clark como um legítimo outcast, um pária em busca de um sentido maior na vida. Ele sabe que é alguém especial e incomum, ao mesmo tempo em que tem que se afastar de tudo e de todos para poder preservar sua real identidade e seus poderes. Esse aspecto do personagem tem um potencial riquíssimo a ser explorado, mas acaba sendo subaproveitado no total da película.

Os Kent / O Homem de Aço / Man of Steel

A infância e juventude de Clark acabam sendo salpicadas aos poucos, em flashbacks ao longo da narrativa. Ótimas sequências, ainda mais com a sólida participação de Kevin Costner como Jonathan Kent, o pai adotivo de Kal-El. Diane Lane faz uma envelhecida Martha Kent, com pouco brilho.

Enquanto descobrimos que Clark tem sido um bom samaritano em diversas localidades, a xereta e intrépida repórter Lois Lane (Amy Adams) corre atrás dessa misteriosa história desse herói anônimo, até encontrar Clark (e não primeiramente Superman) em um momento pré-Planeta Diário. Uma escolha diferente para a já clássica história, que se justifica plenamente no fantástico epílogo do filme.

Lois e Clark / O Homem de Aço / Man of Steel

Henry Cavill, como Superman/Clark Kent, tinha uma missão difícil: substituir o mítico Christopher Reeve e apagar a má impressão deixada por Brandon Routh em Superman – O Retorno. E acaba sendo uma ótima surpresa: consegue retratar um homem perdido em busca de sua verdadeira identidade. Cria a sua própria versão de Superman, não sendo um mero pastiche de interpretações passadas. Pena que o andamento da narrativa e da edição atrapalham a visibilidade da proposta de Cavill, mas ainda assim é um tanto digna.

Mas onde estão os problemas? A questão é que as coisas simplesmente não colam; muitas vezes, são uma mera sucessão de cenas, mas isoladas entre si. Falta uma boa costura por conta do roteiro e da edição. Aliás, não existe uma grande história ou propósito para o ataque de Zod à Terra. É um misto de vingança com senso de dever militar, mas que não se justifica ao largo do filme. Faltou substância.

Superman / Henry Cavill / O Homem de Aço / Man of Steel

E incrível como não se fazem mais melodias de impacto – e por que não, assobiáveis? – como as de antigamente. Hans Zimmer é um tremendo compositor, mas não criou algo nem remotamente próximo ao encanto que John Williams proporcionou com a música-tema para a versão de Richard Donner, em 1978. A trilha não pega o espectador.

E Zack Snyder realiza aqui o seu mais fraco filme. Ele foi surpreendentemente forte (mesmo na linguagem adrenalizada) em Madrugada dos Mortos, mostrou pompa homoerótica videoclíptica em 300, e inexplicavelmente criou uma adaptação franca e coesa para o quase infilmável Watchmen. Ou seja, ele tinha os requisitos para uma boa versão de Superman. Pop na medida. Mas não foi o que ocorreu. E além disso foi acometido por uma síndrome de Michael Bay ao término do espetáculo, propiciando um quebra-quebra interminável na reta final. Uma destruição e uma pancadaria ensurdecedoras, com mais de uma hora de tela. Se você acha que os finais da trilogia Transformers são apocalípticos… Think again. Não é mera reclamação de pancadaria, mas a verdade é que há uma séria descompensação narrativa em relação ao todo. A quebradeira é necessária, mas passa do limite da duração e torna-se cansativa. Sem ser saudosista, mas já sendo, o embate de Superman e Zod em Superman 2 ainda é antológico. Até hoje. Fica a dica revisionista pra quem não se lembra.

E esse novo Superman não tem grande apreço pela propriedade alheia. Talvez no próximo ele seja mais responsável. Certas características clássicas do personagem não precisam ser revistas. Por exemplo: a série Smallville mostra o conceito clássico do personagem, mesmo numa versão contemporânea e sem soar datado.

Agora, sobre a tentativa de criar um universo DC nos cinemas, tal qual a Marvel tem realizado… é um desafio. Há muito a ser feito ainda. Ainda mais que esse O Homem de Aço acertou nas bilheterias. Talvez no futuro dê mais liga. Digo, da justiça.

 

4 comentários

  1. A critica se resume em “não gostei do filme”, cheia de palavras vagas sem nenhum argumento coeso. Para uma avaliação tão rasa e pessoal (baseada apenas na sua opinião) de um filme que a grande audiência está amando, poderia ter economizado parágrafos.

    • “não gostei do filme”: pois então, a crítica nada mais é do que uma opinião subjetiva. A proposta é apresentar uma opinião, com base no máximo de argumentações possíveis que a sustentem. Crítica não é factual. Não é ciência exata e nunca será. Aprenda isso.

      “Cheia de palavras vagas, sem nenhum argumento coeso”: respeito a sua opinião sobre a minha (respeito toda e qualquer opinião, aliás), mas não concordo. Não trabalho com achismos no que escrevo. Sempre busco fundamentar ao máximo.

      E a avaliação sempre será pessoal! E sabe por quê? Porque uma obra de arte depende de um único elemento para que ela exista: o público. Sem público, sem um interlocutor do outro lado, é apenas uma sucessão de imagens e sons, carentes de significado. E o crítico nunca deixa de ser parte do público. Mas ele busca formular uma justificativa – e um entendimento de linguagem – por conta do que acabou de assistir.

      E se você acredita que, só porque a maioria está amando o filme, minha crítica tem menor valor… é porque você não conhece o significado da palavra “pluralidade”. Uma pena.

  2. Arijon,

    gostei muito da sua crítica ao filme. É quase a mesma impressão que tive do mesmo.

    Só discordo da parte em que vc diz: “Aliás, não existe uma grande história ou propósito para o ataque de Zod à Terra”…

    A estória diz que ele veio sim para se vingar, mas veio também para repovoar e trazer de volta o povo de Krypton. Ele veio atrás do Kelex. (Sorte dele que não veio atrás do TelexFree…kkkkkk)

    Quanto ao filme, a filmografia é péssima, com a câmera tremendo toda hora. Raramente vê-se uma tomada clássica, sem tremidas. Fica extremamente cansativo o filme.

    E na Computação Gráfica a DC está muito distante da Marvel. MUITO distante mesmo!!

    Não conhecia o site nem suas análises. Vou passar a acompanhá-los!

    Abraço!

    Fábio

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