Quando o primeiro Kick-Ass chegou nas telas, foi um tremendo acerto. Baseando-se na hypada HQ de Mark Millar e John Romita Jr., a versão cinematográfica caminhava largos passos à frente do material original. Principalmente por introduzir um elemento-chave que faltava às páginas: humor. Afinal, a história do nerd e loser Dave Lizewski, que decide se transformar no primeiro super-herói da vida real, tem um tanto de ridículo (o nome dele é Kick-Ass, gente!!). O conceito é honesto, mas também risível. Então, porque não jogar umas cores nisso?
E óbvio que ele apanha, e muito. E conhece outros heróis como Big Daddy e Hit-Girl. E se envolve com mafiosos. E apanha mais. Mas ele vence no final (puxa, que grande spoiler).
E chegamos em Kick-Ass 2, que estreia sexta, 18/10. A regra dourada de continuações é bigger, larger, bolder. Tem tudo do filme anterior, mas numa escala maior. Isso geralmente significa que não há um grande cuidado com a história, e sim com a histeria alucinada de mais ação e mais humor. Foi o que aconteceu, por exemplo, com Bad Boys 2 e Piratas do Caribe 2. Filmes divertidos sim, mas absolutamente histéricos.
A histeria toma conta de Kick-Ass 2, mas da melhor forma possível. A escala de tudo é aumentada: agora temos um supervilão (o ridículo Motherfucker), novos heróis para auxiliar nosso protagonista e Jim Carrey de coadjuvante, roubando a cena como o líder de uma versão simplória da Liga da Justiça. É um épico, só que não. E justamente por isso é incrível.
O desconhecido diretor Jeff Wadlow injeta adrenalina, ritmo e muito humor (baldes dele, na verdade). Fazia tempo que não se via tanta comédia num filme. E tudo planejado milimetricamente para ser assim. Mais do que um filme de ação, ele é uma comédia de ação. E sem perder o enfoque da história: Dave quer continuar na ativa com Hit-Girl, mas ela quer tentar uma vida normal, longe da pancadaria. Ao mesmo tempo, diversos candidatos a heróis, inspirados pelo surgimento de Kick-Ass, aparecem nas ruas, buscando sua vocação de vigilantes urbanos.
Enquanto isso, Motherfucker é o vilão que busca vingança por conta do desfecho do episódio anterior. Christopher Mintz-Plasse sabe o quão ridículo é o seu physique du role, e usa isso a seu favor. Hilária a cena em que ele não consegue uma ereção, justo quando pretende abusar de uma donzela. Humor negro, ácido e grotesco. Outro grande momento envolve uma arma chamada “sick stick“.
Apesar da comédia, ainda existem ótimas sequências de ação, sem falar numa batalha épica no final (imagine Os Vingadores na vida real). Fique atento para a supervilã Mother Russia, que parece saída de algum ringue de luta livre.
O destaque vai para Aaron Taylor-Johnson, que dá muita credibilidade para o seu Dave com ares de Peter Parker. E Chloë Grace Moretz como Mindy Macready/Hit-Girl continua encantando e surpreendendo. Agora mais crescida, ela também precisa lidar com rivalidades femininas dentro da escola (o que pode ser mais difícil que espancar bandidos) e também com seus hormônios e desejos, numa cena que envolve um clipe de uma boy band —provavelmente o momento mais engraçado do filme.
Diversão recomendadíssima, Kick-Ass 2 acerta em cheio em todos os quesitos de um bom filme pipoca, mas com um sério desvio de comportamento. E sem esquecer dos personagens e de suas evoluções. Ponto para Jeff Wadlow, que entende do riscado e deve escrever o roteiro da adaptação de X-Force muito em breve.