Estreia sexta, dia 7 de fevereiro, a nova aventura do analista de inteligência/herói de ação Jack Ryan. Misto de reboot e origem, é o primeiro filme da série que não é baseado em nenhum livro de Tom Clancy, falecido em outubro do ano passado.
Para os fãs de Jack Ryan (Chris Pine), vemos o evento que lhe arrebentou as costas enquanto fuzileiro naval (citado em Caçada ao Outubro Vermelho) e como ele conseguiu seu doutorado em economia, tudo devidamente atualizado para o pós-11 de setembro. Um preâmbulo interessante para a trama principal: um plano amalucado envolvendo um ataque terrorista simultaneamente a uma guerra econômica contra os Estados Unidos e o todo poderoso dólar.
Kenneth Branagh assume a missão de rejuvenescer o herói, bancando a direção e atuando como antagonista, o vilão russo Viktor Cherevin. Kevin Costner, em atuação sutil, faz o papel de mentor de Jack, que outrora foi de James Earl Jones. Keira Knightley completa o elenco como o interesse amoroso do herói, um personagem apagado e quase decorativo.
- Ação? √
- Espionagem? √
- Suspense? √
- Tensão? √
- Heroísmo? √
Operação Sombra – Jack Ryan é um baita filme de verão, um thriller empolgante na dose certa. Até o humor aparece, de forma comedida, mas com duas piadas certeiras.
Com tudo isso, por que é tão difícil emplacar Jack Ryan no cinema?
O agente da CIA criado por Tom Clancy sofre por parecer um James Bond burocrata e casado.
Essa aura de medicamento genérico que acompanha o personagem, de cópia conceitual meio apagada, somada à origem americanófila exacerbada (afinal, Ryan é agente da pérfida CIA e um PATRIOTA), geram alguma antipatia e tiram a força de uma boa série de ação, suspense e espionagem.
Certamente, os títulos saídos direto do Supercine não ajudam: “Caçada ao Outubro Vermelho”, “Jogos Patrióticos”, “Perigo Real e Imediato”, “A Soma de Todos os Medos”, “Operação Sombra”.
Assim como Bond, Jack Ryan também foi vivido nas telas por uma gama variada de atores: Alec Baldwin, Harrison Ford (2 vezes), Ben Affleck e Chris Pine. Mas ao contrário do espião inglês, a troca de atores entre um filme e outro é praticamente imediata, exceção feita ao Indiana Jones, o que também dificulta a empatia com o personagem (que até poderia se chamar John Doe). Jack Ryan é menos uma pessoa, no sentido de ter caráter e luz próprios, e mais como um veículo para seus atores arrecadarem um troco na bilheteria do verão americano.
O que falta para o analista da CIA não são as mulheres e traquitanas de Bond. Afinal, Jack Ryan é a fantasia suprema masculina republicana, como o pai de família que luta dentro do sistema (ou faz parte do próprio sistema) contra o medo ou terror da ameaça externa, ao contrário da fantasia suprema masculina adolescente que é James Bond. Mas faria bem à Ryan encontrar o caminho que a franquia cinematográfica do personagem de Ian Fleming achou para deixar a União Soviética e a Guerra Fria para trás, a despeito dos filmes com Harrison Ford no papel: ter a mãe-Rússia como inimigo em pleno 2014 é démodé.
Em suma, os filmes de Jack Ryan são ótimos exemplares do cinema de passatempo americano: nenhum é marcante, mas todos divertem e são marcados por boas atuações e roteiros tensos. E esse último ainda consegue superar seus predecessores, dando ênfase à ação e ao aspecto espetaculoso da espionagem, sem deixar de lado o aspecto cerebral do analista.
Com o ótimo resultado alcançado em Operação Sombra, espero que o novo capitão Kirk assuma a franquia por algum tempo. Sua performance e seu carisma reafirmam e confirmam o status de Chris Pine como astro de ação (e como especialista em reboots).
P.S.
Recomendo escutar o podcast do Cine Alerta sobre a epopeia de Jack Ryan nos cinemas.